Edward:
“Eu não estou completo.”
– Uma frase simples, mas cheia de tristeza, que reflete a sua sensação de incompletude e incapacidade de se encaixar no mundo ao seu redor.
O filme Edward Mãos de Tesoura, dirigido por Tim Burton em 1990, é considerado por muitos a obra-prima desse icônico diretor. Estrelado por Johnny Depp e Winona Ryder, o longa se destaca pela trilha sonora memorável, composta por Danny Elfman, que se tornou uma referência musical em Hollywood.
Desde os primeiros momentos, a estética única de Edward Mãos de Tesoura chama a atenção. Os créditos iniciais, com objetos que remetem a outras obras de Burton, dão o tom sombrio e fantasioso que caracteriza o seu estilo. Ao vermos a imagem da velha mansão empoeirada no topo de uma colina, sabemos que estamos prestes a mergulhar no puro “Universo Burton”.
Um Conto de Fábula Sobre Diferenças e Aceitação
O filme é apresentado como uma fábula, misturando fantasia com a realidade cotidiana. Burton cria uma história emocional, repleta de sentimentos, onde duas mensagens principais se destacam: a importância de aceitar as diferenças e superar os preconceitos. Apesar de ser uma obra de ficção, Edward Mãos de Tesoura carrega um tom autobiográfico, refletindo a própria infância de Burton, marcada pela solidão e pela sensação de ser “estranho” no meio social.
Helena Bonham Carter, ex-esposa de Burton, já chegou a reconhecer traços da síndrome de Asperger no diretor, o que traz uma profundidade ainda maior à figura de Edward, que, assim como Burton, é um personagem introspectivo, com dificuldades de se encaixar no mundo ao seu redor.
Kim:
“Segure-me.”
Edward:
“Eu não posso.”
– Um diálogo curto que capta a essência trágica do amor de Edward, onde ele se sente incapaz de demonstrar afeto sem machucar quem mais ama.
Contrastes Visuais e Temáticos
A história se desenrola a partir do relato de uma senhora para sua neta, introduzindo o espectador a um bairro colorido, repleto de casas unifamiliares com jardins bem cuidados. O contraste visual é marcante: em meio às cores vibrantes das residências, surge ao fundo a imponente mansão sombria, uma referência clara ao expressionismo alemão.
A primeira personagem que conhecemos é Peg, uma vendedora da Avon que, em uma tentativa de promover seus produtos, decide visitar a misteriosa mansão no alto da colina. Ao chegar lá, Peg se depara com um jardim surpreendentemente bem cuidado, com árvores podadas em formas excêntricas de animais e figuras humanas.
Esse contraste entre a aparência externa sombria da mansão e o jardim vibrante em seu interior simboliza o mundo interno de Edward, um ser cheio de sensibilidade, escondido atrás de uma aparência incomum. A trilha sonora de Danny Elfman acompanha magistralmente essa descoberta, realçando o tom mágico do encontro.
O Encontro com Edward e o Mundo Externo
Quando Peg encontra Edward, ela se depara com sua peculiaridade mais marcante: ele possui tesouras no lugar das mãos. Apesar de sua aparência assustadora, Edward demonstra uma inocência infantil, desconhecendo conceitos básicos como vida e morte, ao mencionar que seu criador “não acordou mais”.
Fascinada pelas cicatrizes em seu rosto, Peg decide levar Edward para sua casa, iniciando uma série de conflitos e contrastes. Edward luta para se adaptar às normas sociais, sendo inicialmente rejeitado pelos vizinhos, que logo mudam de opinião ao perceber suas habilidades como jardineiro e cabeleireiro.
Burton expõe de maneira brilhante a dualidade da sociedade: o que é diferente pode ser visto como ameaçador, mas também pode ser explorado quando oferece algum benefício. As vizinhas de Peg, que inicialmente olham com desconfiança para Edward, logo começam a admirá-lo por seus talentos. No entanto, essa aceitação é superficial e temporária, baseada no que ele pode oferecer em troca.
Kim:
“Você poderia ter machucado essas pessoas, mas não fez.”
Edward:
“Porque você não queria que eu machucasse.”
– Um diálogo que mostra como o amor de Edward por Kim o guia, e sua gentileza prevalece mesmo diante da incompreensão e rejeição.
O Romance Impossível com Kim
Dentro da casa de Peg, Edward se aproxima de toda a família, criando laços especiais com o filho caçula e o marido de Peg. Mas é com Kim, a filha adolescente, que surge um sentimento mais profundo. No início, Kim também demonstra preconceito em relação a Edward, mas com o tempo ela começa a enxergar quem ele realmente é: uma alma gentil e pura, presa em um corpo peculiar.
O romance entre Edward e Kim é carregado de uma doçura melancólica. Edward não sabe como expressar seus sentimentos por ela, e Kim, apesar de reconhecê-los, está presa às convenções sociais que a impedem de aceitá-lo plenamente. Esse conflito emocional é um dos pontos mais tocantes do filme.
Quando o “Diferente” se Torna Ameaça
A partir do momento em que Edward se envolve em um plano criminoso para ajudar Kim e seu namorado, a percepção da vizinhança muda novamente. De admirado, Edward passa a ser visto como um monstro perigoso. A transformação social é rápida e implacável. As mesmas pessoas que o exaltavam como um talento extraordinário agora querem vê-lo destruído.
Há uma cena emblemática em que Edward, perseguido pelos vizinhos, encontra um cachorro na rua. Ao ver que o cão está com a franja cobrindo os olhos, ele usa suas tesouras para cortar o pelo do animal, que o agradece com gratidão. Essa pequena interação simboliza a capacidade de compreensão e aceitação que os animais, e não os humanos, têm em relação ao que é diferente.
A Profundidade de Edward e a Síndrome de Asperger
Burton constrói Edward como um personagem puro, sem maldade, que simplesmente não entende as complexidades do mundo social. Ele viveu isolado por muito tempo, protegido pela mansão, que funciona como uma metáfora de sua própria personalidade: sombria e impenetrável por fora, mas cheia de beleza e sensibilidade por dentro.
Embora não seja confirmado, muitos críticos apontam que Edward apresenta traços da síndrome de Asperger, como a dificuldade em se comunicar e em entender as normas sociais. Burton nunca admitiu abertamente essa influência, mas o fato é que Edward, assim como muitos indivíduos no espectro autista, possui um mundo interior rico e uma dificuldade imensa em se adaptar ao que o cerca.
Kim:
“Eu ainda danço quando neva.”
– Uma frase final tocante que fecha o filme, mostrando que, apesar do tempo e da distância, a memória de Edward permanece viva no coração de Kim.
A Lição de Aceitação
No final, Edward Mãos de Tesoura nos deixa uma lição poderosa sobre a importância de aceitar as diferenças e olhar além das aparências. Burton nos ensina que o que nos torna diferentes não deve ser motivo de medo ou rejeição, mas uma oportunidade de compreender melhor o interior de cada pessoa.
A história de Edward é, acima de tudo, uma reflexão sobre a solidão, a busca por aceitação e a luta para encontrar um lugar em um mundo que nem sempre valoriza o que é incomum. É uma obra que emociona e nos convida a rever nossos preconceitos.
Duvidas Frequentes sobre Edward Mãos de Tesoura
1 – Porque Edward tem mãos de tesoura?
Edward é um humanoide incomum, moldado por um inventor solitário e idoso. Este criador, que cuidava e ensinava Edward, infelizmente morreu de forma repentina, vítima de um ataque cardíaco, antes de completar seu trabalho. Assim, Edward ficou inacabado, sem as mãos que o tornariam plenamente funcional, substituídas por enormes tesouras afiadas. Ele vive isolado em uma antiga mansão gótica, decadente e cheia de mistérios, onde dividia seus dias apenas com o inventor.
2 – O que acontece no final do filme Edward Mãos de Tesoura?
O filme original conclui com o desaparecimento de Edward após um confronto com Jim, o ex-namorado de Kim, que é o interesse romântico do protagonista. Visto como responsável pelo sumiço do valentão, Edward Mãos de Tesoura é dado como morto e nunca mais reaparece na
vida daqueles que fizeram parte da história.
3 – Quantos anos tinha Johnny Depp em Edward Mãos de Tesoura?
No papel de Edward, Johnny Depp tinha apenas 27 anos quando deu vida ao doce Edward. A trama foca em um ser solitário, que possui gigantescas tesouras no lugar das mãos, que, ao ser acolhido por uma família suburbana, se apaixona por sua filha adolescente, no caso, Kim (Winona Ryder)
4 – Qual a moral de Edward Mãos de Tesoura?
A moral de Edward Mãos de Tesoura gira em torno de aceitação, empatia e a natureza da diferença. O filme mostra como Edward, um ser gentil e talentoso, é marginalizado por sua aparência e habilidades incomuns. A história explora a luta entre a individualidade e a pressão para se encaixar nos padrões da sociedade, revelando o quanto o medo e o preconceito podem levar ao isolamento de pessoas que são diferentes.
Além disso, a relação de Edward com Kim evidencia o poder transformador do amor e da compreensão. Em última análise, o filme sugere que a verdadeira beleza está na autenticidade, incentivando as pessoas a acolherem suas próprias diferenças e as dos outros, em vez de ceder a julgamentos superficiais.
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